segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

046 - Um prémio para o relançar da APA


 
Ainda em relação à questão do futuro da APA – Associação Profissional de Arqueólogos, é curioso o comentário publicado no Facebook pelo seu vice-presidente, a propósito do não pagamento de quotas por parte de associados: “Quem acredita na APA pagou as quotas de forma a poder exercer e usufruir de todos os seus direitos.” O problema é precisamente esse: já são poucos, demasiadamente poucos, os que ainda acreditam na associação.

Face à actual situação, como proceder? Concordar que a razão está com aqueles que pagam e portanto com aqueles que acreditam na actual APA? Sendo tão poucos (10, 15, 20 para um universo de perto de 400 associados...os dados não estão divulgados...), será que a esmagadora maioria dos sócios é totalmente inconsciente?

Penso que a actual direcção da APA assenta a sua acção e intenção de recandidatura a um futuro mandato numa deficiente análise da realidade e numa incapacidade de proceder a uma auto-crítica minimamente objectiva. A progressiva desmobilização dos membros da APA e a ausência de novos associados parece demonstrar uma profunda falta de empatia entre os seus corpos sociais, os restantes membros da associação e os arqueólogos em geral. Por isso mesmo, é questionável que aqueles que já não pagam quotas e se afastaram da vida associativa sejam recriminados. É que pertencer à APA não é uma questão de fé, sendo antes uma opção assente numa convicção e em expectativas de resultados úteis que não foram, de todo, alcançados pela actual direcção. Por isso, não considero pertinente que os sócios que (ainda) não desistiram e que têm continuado a pagar as suas quotas devam ser recompensados pelo seu esforço, muito menos sendo isentados de quotas durante alguns anos, como alguns já sugeriram.

Este é o tempo de viabilizar o retorno das centenas de membros que deixaram de acreditar. Esse eventual regresso será a única e merecida recompensa para aqueles que mantiveram a APA viva. A partir desse ponto, poderá começar o verdadeiro trabalho assente em ideias inovadoras.
 

Nota final: até ao dia da próxima Assembleia Geral irei pagar as quotas que tenho em atraso.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

045 - O fim da APA é inevitável?


 
Após três anos de um mandato manifestamente infeliz a APA vai reunir em Assembleia Geral, convocada para eleger novos corpos sociais. A reunião, a decorrer no final de Março, corre o sério risco de fazer juntar menos de uma dezena dos cerca de quatrocentos associados. Perante isto, é evidente que a APA, depois de um lento definhar ao longo de vários anos, está agora à beira do fim. Como arqueólogo e como responsável da ERA Arqueologia, considero que a situação é muito preocupante.
 
Face à necessidade estratégica de agir e de procurar mobilizar os arqueólogos em torno de causas fundamentais para o incremento da profissão e respectiva afirmação social, a actual direcção mais não fez do que assistir impávida e serenamente ao esvaziar da missão da APA e à debandada quase total dos seus associados. É provável que hoje, por terem as quotas em dia, apenas vinte sócios estejam em condições de votar. A mudança é quase impossível.
 
Mas, porque será que já quase ninguém paga as quotas? A resposta é simples: porque já quase ninguém acredita na APA. A motivação é nula, a descrença parece irreversível e poucos acreditam no pagamento das dívidas em atraso.
 
 
Será definitivo este afastamento da esmagadora maioria dos sócios?
 
 
Em contraponto ao actual sistema em que os arqueólogos são regulados e controlados pela tutela ou pelas entidades empregadoras, acredito num modelo assente na auto-regulação dos profissionais. Por isso, considero fundamental a efectiva reactivação da APA. Em benefício dos arqueólogos e do nosso património arqueológico.
 
 
Mas, como reabilitar a APA? Como se explica o silêncio da actual direcção face ao aproximar das eleições? Que justifica a sua falta de vontade em motivar os associados a participarem no acto eleitoral, nomeadamente através da discussão de ideias e projectos?
 
Para acreditar que uma mudança ainda é possível na APA, proponho um roteiro simples:
 
1 – que nenhuma candidatura seja agora apresentada uma vez que nas actuais circunstâncias qualquer eleição estará ferida de morte pela sua escassa representatividade;
2 – que seja aprovado, já na próxima Assembleia Geral, um perdão generalizado das dívidas acumuladas pelos sócios, criando-se condições para o seu regresso a uma plena participação na vida associativa;
3 – adiamento das eleições para futura Assembleia Geral e mobilização dos sócios em torno de ideias e projectos alternativos que possam ir a votos.
 
 
O perdão das dívidas é uma solução milagrosa para o relançamento da APA? Não. A solução está na participação dos sócios, de muitos sócios, nas suas ideias e na sua capacidade de agir. Perante a óbvia incapacidade e falta de vontade da generalidade dos sócios em pagar as quotas em atraso, esta parece-me a única alternativa que ainda poderá viabilizar o regresso dos associados ao palco da acção. Se tal não acontecer e se os arqueólogos não agarrarem tal oportunidade, deverá ser frontalmente assumida a falência da APA.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cabeça de Auroque encontrada no Monte do Carrascal 2






Escavação em laboratório de parte da cabeça de um auroque (bovino selvagem de grande porte, já extinto) recolhido na ocupação mesolítica do sítio do Carrascal 2 (trabalho em curso, da responsabilidade do NIA, realizado no âmbito de um projecto de investigação da FCT)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

043 - Dois elos da cadeia arqueológica: empresas e universidades





A esmagadora maioria dos projectos de Arqueologia realizados em Portugal são concretizados por empresas e são estas que gerem aquela que é, de longe, a mais significativa fatia de financiamento anual aplicado nesta área.

Este paradigma foi criado pela nossa sociedade de fundamentos essencialmente capitalistas e liberais. A estrutura do Património arqueológico em que nos movemos assenta num Estado licenciador e fiscalizador. A quase total incapacidade de investimento público nesta área deixa aos promotores de empreendimentos e a título indemnizatório o encargo de investir em Património: quem afecta, paga.
A tese poderia ser pacífica se os investimentos realizados de acordo com este modelo fossem consequentes e reprodutivos, ou seja, se fossem geradores de conhecimento, se contribuíssem para a salvaguarda do Património, se promovessem valores de civismo e se estimulassem o usufruto do Património pelos cidadãos. Infelizmente, na maior parte dos casos os projectos concretizados não decorrem com a necessária qualidade e a sua visibilidade para o exterior é nula. Dessa forma, muitos são os casos em que o investimento é realizado apenas para garantir um “papel” para que determinadas obras avancem.
 
 
O êxito de uma Arqueologia efectivamente Pública implica a criação de pontes entre os que a concretizam, aqueles que a pagam e os que lhe dão continuidade. É aqui que surge a articulação entre empresas e universidades. Para ampliar as possibilidades de gerar conhecimento a partir dos investimentos realizados, as universidades e as empresas da área da Arqueologia devem trabalhar em conjunto porque são elos de uma cadeia que liga os vestígios do passado com os cidadãos de hoje e do futuro. O ritmo de descoberta e de escavação de tantos e tantos sítios arqueológicos absolutamente relevantes implica uma forte responsabilidade, devendo empresas e universidades actuar de maneira a potenciar os recursos de criação de conhecimento que encerram os vestígios do passado.
 
O Colóquio da ERA, a realizar no próximo fim-de-semana, assenta numa saudável parceria com a Universidade Nova de Lisboa. Colaborar pode não ser fácil porque implica que nos descentremos sempre um pouco do nosso próprio foco. Mas aqueles que tiverem a Visão mais ampla e se dispuserem a alargar os seus horizontes terão mais hipóteses de cumprir a sua obrigação para com a sociedade e para com o nosso Património colectivo. Colaborando, empresas e universidades podem crescer, melhorar o seu desempenho e contribuir para a sociabilização da disciplina.